Todos sabem ou deveriam saber sobre a importância da política em suas vidas. Viver é um ato político, como dizem. Desde a Pólis grega, viver em sociedade é um exercício da política. Seja na família, entre amigos, entre colegas de trabalho ou nas relações humanas em geral, é preciso entender e conviver com regras sociais. A predominância de grupos sociais no poder estatal constitui nações, estados e municípios. De outro lado, a politicagem é a política de interesses pessoais, de troca de favores, de resultados insignificantes, na fofoca constituída de factoides e narrativas inverídicas. Analisando-se esses dois termos, percebe-se aquele que mais se parece mais com a realidade brasileira: a politicagem.
A política cabo-friense, um micro extrato da política nacional, sobretudo nesses tempos de redes sociais, é preponderante o uso de formas de politicagem, disfarçada de política oficial. Pode-se dizer que o exercício político na cidade em muitos momentos remete-nos a uma realidade tosca. Críticos da cidade, a comparam a telenovela “O Bem-Amado”, que retrata a cidade de “Sucupira”, impregnada da política coronelista e atrasada. O pensamento provinciano dominante, faz com que o município da Região dos Lagos se afaste do progressismo do Século XXI e do desenvolvimento econômico de potencial alcance.
Com raríssimas exceções, as constatações do atraso político que convive no município, podem ser realizadas numa rápida análise das redes sociais de políticos e de pessoas ligadas a estes. As sessões da Câmara Municipal também são um termômetro para o entendimento da dinâmica da política local. Parte da população vê na política, uma forma de aproximação com grupos dominantes que poderiam lhes proporcionar alguma vantagem pessoal, como um emprego ou o ao poder. Isso é sintoma de uma anomalia, que cristaliza o clientelismo como forma de ação política. Cidadãos tornam-se dependentes daqueles aos quais elegeram para mandatos. Nas redes sociais, percebe-se o predomínio de boataria, denúncias vazias, puxa-saquismo, e muita falação sem conteúdo de ideias. O nível da discussão política pode ser observado, muitas vezes, em ataques pessoais e na propagação de fake news. A falta de responsabilidade com o conteúdo das mensagens e publicações é recorrente. Sintoma da realidade brasileira de baixo nível de consciência política.
Alguns políticos, auto declaram-se como se representantes de uma renovação o fossem. Alguns vereadores cabo-frienses com pretensões de concorrer a cargos do executivo auto proclamam-se como “nova política”. Entretanto, investigando um pouco mais de perto a atuação destes, incluindo as campanhas que o elegeram, pode-se afirmar com segurança que suas práticas políticas são muito semelhantes as mais antigas. Mesmo com o esforço para diferenciarem-se dos demais, utilizam-se de estrutura de campanha eleitoral bem similares. O uso de linguagem populista e oportunista é uma característica peculiar, além de alianças adas e recentes bem próximas dos políticos da chamada “velha política”. A ausência do debate de ideias, o exercício de mandatos não coletivos e sem participação popular, centrados no personalismo e no protagonismo dos mandatários, são caraterísticas da política arcaica a qual estão inseridos.
Por tudo exposto, espera-se que os segmentos sociais possam modernizarem-se para elevar o nível de ideias e de renovação da política. O município cabo-friense precisa de fato adentrar o século XXI.
O desenvolvimento almejado, será possível, na medida que o paradigma da política local seja efetivamente mudado, saindo de um modelo coronelista-clientelista para transformar-se noutro gestor-coletivista.
A imprensa local tem papel fundamental nesta necessária renovação. Esta coluna está aqui à disposição deste debate.